HDR5 – NÚCLEO MIRADA

Category
2021, Dança, Núcleo Mirada, Prêmio Aldir Blanc de apoio a cultura da cidade de São Paulo, site, videodança
About This Project

núcleo MIRADA

dez anos

 

No intuito de ritualizar e celebrar uma década de existência, o núcleo MIRADA se propõe, diante da necessidade do isolamento social e, portanto, da quebra súbita em seu modo de operar, como tantos artistas das artes da presença, a olhar para sua trajetória. Surge o Projeto HDr 5, contemplado pela Lei Emergencial Aldir Blanc (2020), que propôs um mergulho nas materialidades arquivadas em nossos HDs ao longo deste tempo.

veja o site do projeto

https://www.nucleomiradadezanos.com/

 

Para tal, convocamos a ideia de curadoria:

 

“Muitas vezes, e principalmente no Brasil, me perguntam o que faz um curador. Walter Hopps, um dos grandes curadores do século XX, compara o trabalho de montar uma exposição ao de reger uma orquestra sinfônica. A palavra curador vem do latim “curare”, que por sua vez chega a nossa língua como curar – na acepção de “cuidar” ou “conservar”: tomar conta das obras de arte. Mas a profissão, tal como a conhecemos, é moderna, remontando ao século passado apenas. E a história da arte dos anos 1950 até o presente está intrinsecamente conectada às exposições que aconteceram no período”. 

(LEONZINI, Néssia. Apresentação.  In: OBRIST, Hans Ulrich. Uma breve história da curadoria. São Paulo: BEI, 2010, p.09)

 

Aqui, assumimos o significado de curadoria como estratégia de cuidar e conservar um longo processo de construção artística e histórica, associado aos cinco “R”s, conforme nomeação do projeto: REVER, REVELAR, REELABORAR, RESSIGNIFICAR E RESISTIR. Tais palavras situam nossos olhares e convocam nossos afetos, diante da intenção de selecionar para expor ao público, pela primeira vez em plataforma online, algumas das materialidades artísticas que nos compõem. Palavras que também orientam, nesse projeto, nosso processo reflexivo e, pelas quais, temos elaborado maneiras de nos debruçar sobre esses 10 anos. 

 

REVER

 

MIRADA nasce em 2010, impulsionado por um desejo de quatro mulheres se envolverem criativamente. Antigas companheiras de graduação em Dança pela Unicamp, encontram-se em São Paulo. Começam a trabalhar juntas em projetos diversos e logo compartilham um certo desgaste no trabalho processual artístico sob a perspectiva e vulnerabilidade do que era trazido por outrem (outro diretor, outro coreógrafo). Decidem, por uma intuição coletiva, que o momento era propício para começar uma nova história.

 

A princípio, oMIRADA não tinha o interesse de se estabelecer como um espaço estável, ou financiado, tinha mais o intuito de promover micro espaços e micropolíticas que nutrissem esse grupo de artistas que se reuniam. Um espaço que, a priori, foi muito mais de abertura de canais de experimentações, do que um lugar de produção.

 

Uma rotina de encontros criativos foi se estabelecendo, fundamentada num aspecto precioso: o respeito aos limites de cada uma. Como sempre, cada indivíduo vivendo situações pessoais e profissionais específicas/singulares, e esses encontros, permitiram que nos aproximássemos e nos distanciássemos, conforme o próprio termômetro: a medida que fossemos elaborando as próprias possibilidades e, por que não, necessidades. Havia, portanto, uma liberdade de fluxo, um respeito à presença, assim como um respeito à ausência, essenciais neste início e certamente imprescindível ao longo do tempo.

 

REVELAR 

 

Nosso trabalho é bastante ancorado no processo. São os processos de pesquisa que criam apontamentos possíveis de caminhos para se construir corpo, dança, dramaturgia e pensamento, constantemente. Dificilmente determinamos os produtos a serem desenvolvidos com rigidez, ou com um alto grau de visualização prévia das obras. Pelo contrário, tentamos criar projeções, nutrir as ideias, os campos imagéticos, poéticos, teóricos, individuais e coletivos, porém não nos fixamos e não enrijecemos, pois acreditamos que cada momento dos processos revela muitas possibilidades de significados que nos interessam, e que podem ser desenvolvidos, esmiuçados e aprofundados. Isso faz com que olhemos para trás e enxerguemos um vasto campo de experiências, algumas muito aprofundadas e elaboradas, outras nem tanto. 

 

A coletividade é o princípio fundador de toda esta história. O “balance” que a voz de outra traz, os posicionamentos distintos em relação aos processos, olhares e percepções diversas foram mantendo esse espaço móvel, que não se enrijece. É um espaço de muita produtividade, criação, trabalho e pesquisa, mas é também um espaço de relações, das mais fluidas às mais turbulentas, que envolvem um campo de intimidade, as relações de amizade, profissionais e nos obrigam constantemente a lidar com um campo de autocrítica apurado. 

 

Nossa pesquisa artística é costurada por uma série de realizações e experimentos, chamados muitas vezes de procedimentos, ou procedimentos-obra, que originaram experiências, tanto individuais quanto coletivas, do Núcleo, e também com parcerias convidadas, que se tornaram aspectos primordiaisdo MIRADA.

 

Algumas delas geraram construções cênicas, obras de dança, procedimentos-obra, obra-procedimento, espetáculo, ou seja, múltiplas formas e narrativas que, por sua vez, impulsionam novos caminhos de pesquisa.

 

REELABORAR

 

Como se tivéssemos uma linha, que nos conecta com o “adiante”, mantemos também uma terra, um solo, que vamos pisando e aprofundando e, às vezes, fincando mais ou menos os pés, e por vezes, plantando sementes, despretensiosamente, que lá adiante nos convocará nova atenção.

 

Esses modos não são estanques, é um modo gasoso: tem uma densidade, uma materialidade, porém não se solidifica. Por vezes questionamos sobre a necessidade ou não de certezas, ou a solidificação dos nossos “saberes”, mas percebemos que, de um modo geral, isso revela a beleza daquilo que, em crise, se mantém vivo.

 

Nos estabelecemos pelo afeto, ou talvez pelo afetar, de um modo mais generalizado mesmo. O “terreno” foi e continua sendo construído com cuidado e com muitas das nossas preciosidades, que nem sempre são sinônimos das nossas melhores qualidades.

 

As diferentes qualidades de momentos geram diferentes qualidades de movimento, produções, ações e encontros. Nossos estados corporais e relacionais reverberam, aparecem nos nossos processos e nas nossas obras. Isso é importante ao tocarmos na questão de que não produzimos uma arte que fale de nós mesmas, mas sim uma arte que acolhe a nós mesmas, nas nossas diversidades. Talvez seja isso que faça com que nos sintamos ainda estimuladas por esse fazer coletivo: há um desafio e há uma admiração.

 

RESSIGNIFICAR

 

Temos, de fato, uma afinidade com construções que são feitas no corpo, pelo corpo, por meio de experimentações. Não é tudo que vai a público, não é tudo que se nomeia trabalho de dança, mas, em alguns momentos, alguns trabalhos se transformaram em sínteses de processos longos de pesquisa vividos anteriormente, e ao mesmo tempo, como síntese, quando se torna um trabalho, emerge novamente em um outro vasto campo possível para exploração.

 

Nos situamos em um jogo que se propõe olhar para dentro e olhar para fora e assim sucessivamente. Muitas vezes, buscamos o distanciamento, para observar o que cada processo, cada escolha, cada construção cria de sentidos e, quais sentidos são atualizáveis no próprio corpo e na experiência coletiva, capazes de gerar outros aprendizados e reverberar na vida. 

 

O próprio nome surgiu, desde o início, como a capacidade de MIRAR distintas perspectivas. E continuamos a montar e desmontar miradas, neste momento, aproximando-nos dos olhares em espaços-tempos virtuais, apresentando-lhes nossa sala de exposição núcleo MIRADA/ dez anos.

 

RESISTIR

 

Ainda em distanciamento social e cuidando daquilo que há de mais precioso, a vida, compartilhamos um pouco da história, mantendo uma micropulsação que nos move em frente, na continuidade do percurso, em coerência com os possíveis modos desse nosso tempo. Aproveitamos para agradecer e salientar a importância de tantas parcerias artísticas, que atravessaram nossos corpos e somaram com suas inquietações, curiosidades, valores, entendimentos de arte e de mundo.

 

Ao contrário de um núcleo biológico, que protege e mantém o material genético celular intacto, nós, carregamos como Núcleo, o DNA do MIRADA, porém desejamos e sempre buscamos que este seja alterado, transformado e afetado por todos os encontros que tivermos, promovendo reais mutações genéticas, que novamente possam atualizar aquilo que somos e nos manter vivas e em movimento. 

 

Todas as mirades são bem vindes.

Abraços afetuosos e desejos de saúde,

  

 

Ficha técnica do projeto HDR5.

núcleo MIRADA

Coordenação Geral e Direção:

 Liana Zakia  e Karime Nivoloni

Produção:

Cássia Sandoval

Video Makers:

Danilo Pera e Gustavo Pera