Foram quatro dias, com uma programação distribuída entre as 18h e as 24h, que marcam a inauguração do ‘Canto’, um novo espaço cultural localizado na zona oeste da cidade.
Nas primeiras duas segundas e terças-feiras de dezembro – dias 6 e 7, 13 e 14/12, a Companhia Perversos Polimorfos lança, em São Paulo, o ‘Festival Ensaios Perversos’, versão estendida de seu “Ensaios Perversos”, programa realizado desde 2016 e que, nos últimos tempos, aconteceu no modo online. Na verdade serão duas estréias: o evento marca também a inauguração do ‘Canto’, um novo espaço cultural da cidade, localizado ao lado da Estação Sumaré do Metrô, que elegeu o Festival para abrir suas portas ao público.
Uma intensa e diversificada programação estará distribuída nos quatro dias, entre as 18h e as 24h, em três momentos independentes – “Conversas sem Fim”, sempre com um bom bate-papo sobre temas relacionados a ética, política e economia da cultura; “Preliminares”, com a apresentação de espetáculos ou performances; e “Dance Floor”, um espaço-festa com pista comandada por DJ, para fazer todo mundo dançar antes de voltar para casa. Durante todo o evento, estará aberta a cozinha, com comidinhas e drinks descolados da chef Rute Corrêa, que comanda as panelas da Ong ‘O Amor Agradece’, responsável por distribuir milhares de refeições semanais para pessoas em situação de rua por toda a cidade.
A ação propõe gerar ambientes férteis que semeiem estudos, discussões e partilhas artísticas, para colaborar com o fortalecimento cultural a partir do desenvolvimento de redes criativas entre artistas de distintos segmentos e linguagens, bem como a expansão do público promovendo novas formas de sociabilidade.
Junior Guimarães é o convidado para abrir o Festival, no dia 6, às 19h. No ‘Conversas sem Fim’, o produtor cultural mineiro, formado em administração de empresas pela PUC-SP, vai compartilhar sua experiência de 20 incansáveis anos em produção de eventos e projetos, abordando o tema “Produção Cultural: Espaços e Territórios Criativos”. Junior Junior, como também é conhecido no meio, participou da equipe gestora da Associação Cultural Casa das Caldeiras por oito anos, da produção da SP-Arte e do Festival de Fotografia Foto em Pauta, coordenou a produção do Centro de Referência da Dança por quatro anos e, atualmente, se dedica ao projeto de design e artesanato ‘Semana Criativa de Tiradentes’, ao lado da jornalista Simone Quintas.
Na sequência, o ‘Preliminares’ reserva dois espetáculos: “Eco, oco preso no peito”, da também mineira Maria Emilia Gomes, que traz, ainda em processo, um corpo de mulher negra ritualizado em performance que, entre estados de indignação e ancestralidade, vibra, ginga, pulsa e celebra o instante; e “Sem Base”, solo de Ricardo Januário, que, em uma reflexão profunda sobre viver sem fortes estruturas, com poucos apoios, inseguranças, e sem uma base estável se não a sua própria história, fala do criar com o vazio junto ao silêncio no instante do agora.
DJ Leandro Pardi, que, à frente da Festa Pardieiro, já trouxe shows incríveis de Elza Soares, Marina Lima, Fafá de Belém, Tulipa Ruiz, Liniker, Maria Gadú, Céu, Ney Matogrosso e Marília Bessy, entre muitos outros artistas da música popular brasileira, comanda o ‘Dance Floor’, sem pausa, até a meia noite.
Dia 7/12, a bailarina e coreógrafa Juliana Moraes leva com o público “Uma conversa a partir de dança em museus e galerias”. Mestre em dança pelo Conservatório Trinity Laban for Movement and Dance (Londres), bacharel em dança e doutora em artes pela UNICAMP, onde leciona no Departamento de Artes Corporais, Juliana Moraes já recebeu prêmios como APCA, Festival Cultura Inglesa e Bolsas da Fundação Vitae e UNESCO-Aschberg.
“Leveza II / do procedimento para evocar a leveza”, de Carolina Sudati, e “Do Chão não Passa”, de Henrique Lima, são as performances que entram na sequência. Em “Leveza II…”, Carolina Sudati parte de seu trabalho anterior, criado em meio à pandemia de Covid19, como tentativa de eliminar memórias paralisantes para um habitar do corpo como potência. Na nova criação, ela segue evocando o caminho até a leveza interna, tendo como parâmetro geral transpor e converter padrões físico-corporais e psicoemocionais limitantes em potência físico-energética.
Com a ideia de renovação de um ciclo que um corpo pode percorrer, no solo “Do Chão não Passa”, Henrique Lima explora seu corpo e se entrega ao desafio de construir movimentos interligados por pesos e encaixes.
Para o ‘Dance Floor’, a DJ Pensanuvem, produtora e residente de algumas festas de São Paulo, como a Macumbia e a Sounds of Siririca, e que integra alguns coletivos como Cesta e Domingaz, traz um set quente que mescla MPB com psicodelias e malemolências em cumbias, funks, reggaes e outras ondas.
Ana Teixeira, que já dançou no Balé da Cidade de São Paulo e no StaatsTheater Kassel (Alemanha), abre a noite da segunda-feira seguinte (dia 13), com a conversa “Perguntando sobre o agora – dançar sem pressa para o amanhã”. Doutora em Comunicação e Semiótica e doutoranda em Filosofia, pela PUC/SP, onde também é professora e vice-coordenadora do curso de Comunicação das Artes do Corpo, tem como foco de pesquisa a história do corpo que dança, problematizando a relação corpo, poder, dança e instituição pública.
O artista e professor da Casa Dom Barreto, em Teresina/Piauí, Zé Reis, dança “Frango”, trabalho que utiliza a imagem de um pinto em crescimento, a ideia de um bicho inventado em sua carne de borracha, para falar da fragilidade reprimida do corpo.
Em seguida, o T.F. Style apresenta “Carne Urbana: Simultaneidade”, aprofundamento do estudo do grupo sobre o conceito de Zona Cinzenta (Gray Zone), desenvolvido pela pesquisadora Claire Bishop, que define um ambiente misto entre a caixa preta (teatro) e o cubo branco (museu), iniciado no trabalho anterior, de 2017, “Carne Urbana”.
Os sets ecléticos da DJ Lia Macedo, que misturam sambas, Maracatu, Carimbó, Grooves, batidas eletrônicas e afins, invadem o ‘Dance Floor’. Ela, que já tocou ao lado de Arnaldo Antunes, Rica Amaral, Pedra Branca e abriu shows de Jorge Benjor, Maria Bethânia, Gabriel O Pensador, Nando Reis, Maria Rita, Otto, Tiê, Margareth Menezes, entre outros artistas, promete não deixar ninguém parado na pista.
O último dia do Festival começa com a conversa “Poéticas da Dança para uma negritude em movimento”, com a artista da dança, pesquisadora e educadora do movimento somático Cléia Plácido. Mestranda em artes pela UNESP, onde investiga a presença do corpo negro na dança contemporânea, Cleia Plácido é diretora do Menos1 Invisível Núcleo de Dança e atual presidente da Cooperativa Paulista de Dança.
O ‘Preliminares’ traz a dança-instalação, ainda em processo, “Provisórios”, na qual Ilana Elkis, diretora do BOIA, um grupo de mulheres artistas, ocupa um espaço para montar esculturas efêmeras com placas de madeira de variados formatos, tamanhos, espessuras e pesos. A partir desta ação – montar o espaço -, o corpo vai coreografando e sendo coreografado, revelando diferentes estratégias para se manter em relação e o público é convidado a observar os diferentes pontos de vista ao redor da experiência.
O Teatro da Matilha entra em seguida com “Dissolução festiva: geração z”, espetáculo que faz uso da linguagem performativa junto à dança, à música e ao teatro, para esbarrar em questões metropolitanas e contemporâneas da geração que cresceu no mundo digital. Com o corpo urbano, deslocado e gratuito, um grupo de intérpretes jovens se propõe ao trabalho de agrupar e, ao mesmo tempo, dissolver os universos de referência que tecem suas histórias.
Para encerrar o Festival, Simoníssima assume o ‘Dance Floor’, para fazer todo mundo dançar com seus sets criativos. Produtora e apresentadora do programa ‘Seleta Coletiva – nas Batidas de um Brasil Plural’, da rádio Graviola, já dividiu os palcos com Anelis Assumpção, Vanessa da Mata, Karina Buhr, Letrux, Orquestra Contemporânea de Olinda, Charanga do França, Felipe Cordeiro, entre outros artistas consagrados. DJ, pesquisadora musical e educadora, desenvolve trilhas sonoras para espetáculos, exposições de arte, cinema e tv, e ministra cursos e oficinas de trilha sonora e introdução à discotecagem digital para crianças, jovens e adultos em unidades do SESC, no MIS e em escolas e espaços alternativos.
O Festival Ensaios Perversos foi contemplado pelo Edital Proac Expresso – Lei Aldir Blanc nº 60/2020, prêmio por histórico de realização de mostras, festivais e outros eventos culturais, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
Um novo Canto
Comandado por Vinicius Goy, Rute Correa e Luiz Guilherme Ferreira, o Canto abre as portas com o Festival Ensaios Perversos. Do ladinho do metro Sumaré, em São Paulo, o espaço multidisciplinar, com área verde e generoso pomar, está pronto para receber convidados para brunch, almoço e drinks ao ar livre, em meio à natureza.
Na casa, da década de 1950, duas salas amplas e um espaço expositivo vão abrigar uma programação cultural focada em arte contemporânea. O espaço também acolhe a ONG ‘O Amor Agradece’, comandada por Rute, que nasceu no quintal da sua própria casa e hoje conta com mais de 250 cozinheiras no preparo de 3 a 4 mil refeições semanais, distribuídas pela cidade a pessoas em situação de rua.
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Serviço
O que: Festival Ensaios Perversos – conversas, performances, gastronomia e pista com DJs –
*Evento inaugural do espaço cultural Canto
Quando: 6, 7, 13 e 14/12 (2ªs e 3ªs), das 18h às 24h
6/12
18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim – Produção Cultural: Espaços e Territórios Criativos – Junior Guimarães
20h – Preliminares – Maria Emilia Gomes (Eco, oco preso no peito) e Ricardo Januário (Sem Base)
21h – Dance Floor – DJ Leandro Pardi
7/12
18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim – Uma conversa a partir de dança em museus e galerias – Juliana Moraes
20h – Preliminares – Carolina Sudati (Leveza II) e Henrique Lima (Do Chão não Passa)
21h – Dance Floor – DJ Pensanuvem
13/12
18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim – Perguntando sobre o agora – dançar sem pressa para o amanhã – Ana Teixeira
20h – Preliminares – Zé Reis (Frango) e T.F. Style (Carne Urbana: Simultaneidade)
21h – Dance Floor – DJ Lia Macedo
14/12
18h – Abertura da Casa
19h – Conversas sem Fim – Poéticas da Dança para uma negritude em movimento – Cléia Plácido
20h – Preliminares – Ilana Elkis (Provisórios) e Teatro da Matilha (Dissolução festiva: geração z)
21h – Dance Floor – DJ Simoníssima
Onde: CANTO – Inauguração
Avenida Doutor Arnaldo 1638, Sumaré, São Paulo – SP
(ao lado da estação Sumaré do metrô)
Capacidade Máxima: 100 Lugares, por ordem de chegada ao espaço
Quanto: Grátis