As obras do artista plástico carioca Hélio Oiticica (1937-1980) são fonte inspiradora de muitos artistas da cena contemporânea.
Atualmente, quem bebe dessa fonte é a Cia. Mariana Muniz de dança. O grupo, que já tem no currículo espetáculos “Parangolés” (2007) e “Nucleares” (2008), completa agora a trilogia em “Penetráveis”.
Em “Penetráveis”, o verbo é jogar. O jogo é contornado pela narrativa um tanto cômica de Mariana Muniz, misturada à trilha sonora de Ricardo Severo e Loop B, que evoca a brasilidade musical das escolas de samba.
A partir dessa premissa do joguete, a companhia se dispõe a pesquisar as mais diversas possibilidades de
relação entre o corpo, o espaço e o objeto cênico.
Os cinco jovens bailarinos interagem com tábuas de madeira, tijolos e figurinos carnavalescos – materiais característicos de Oiticica.
A coreografia tem um traço peculiar e, ao mesmo tempo, comum à dança contemporânea. A linguagem é autoral: os intérpretes tem liberdade de criar suas partituras de movimento – dentro, é claro, de uma organização preestabelecida.
Isso é o que, nesse trabalho, mostra o processo de criação que a cia. desenvolve em busca de uma linguagem singular, própria do grupo.
A dança contemporânea, assim como qualquer linguagem, tem seus símbolos, sua gramática, sua coerência e sua coesão.
Para uma linguagem existir, ela precisa de tempo para maturar e alcançar sua eficácia em comunicar, de fato, o que deseja dizer.
A vontade de comunicar de um modo específico e autoral fica clara.
No entanto, a atuação dos jovens bailarinos se contrasta exatamente com a forte e envolvente presença cênica da veterana Mariana Muniz.
Felizmente, o contraste não vira uma barreira de comunicação – mas, isso sim, um indicativo que legitima a ideia de que um território da dança contemporânea é um espaço também para experimentações.
Fonte: flavia-couto.blogspot.com.br